Machado de Assis foi, e aínda é, o maior romancista do Brasil. Suas obras punham a nu o mito do "bom brasileiro" ao retratarem a cretinice, o egoísmo e a covardia do povo. "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é seu testamento poético. Ao recapitular a vida e morte de um legítimo e vazio burguês perdido na côrte, Machado analisa com humor e coragem o espírito humano em seus aspectos mais pífios e embaraçosos.
Julio Bressane é o fauno do cinema underground brasileiro. Erotismo e ironia são os ingredientes principais na sua experimentação cinepoética. "Matou a Família e Foi ao Cinema", um dos maiores filmes da história do cinema brasileiro, é uma cuspida audiovisual no olho da mediocridade. Seu rigor cênico e seu despojamento são a prova cabal de que é possível realizar obras-primas sem dinheiro nenhum. Uma verdadeira lição aos pseudo-cineastas pobres, ricos e de classe-média.
O encontro do grande mestre com o pequeno gênio resultou em um filme bestial. "Brás Cubas" é um orgasmo de experimentação, ousadia e lirismo. Machado de Assis sadomasoquista encontra a sacanagem demolidora do grupo teatral "Asdrúbal Trouxe o Trombone" e do epidérmico Luís Fernando Guimarães. O filme em si revela o olhar de Bressane sobre o Rio de Janeiro ao retratar em Brás Cubas o primeiro garotão da Zona Sul, e o Paço Imperial como palco da pornochanchada realista.
"Brás Cubas" é a releitura cinestética de (quase) todos os capítulos do livro. Um filme gigantesco de baixíssimo orçamento que escorre arte dentro do acuado cinema brasileiro dos anos 80.
Miguel Haoni
(APJCC - 2010)
Serviço: – "Brás Cubas", de Julio Bressane, quarta-feira, dia 25 de agosto, 18:30H, no auditório do IPHAN, Travessa Rui Barbosa, esquina da Avenida Governador José Malcher. Realização: INOVACINE. Apoio: IPHAN. Informações: 8813-1891
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