Mostra Melhores da Década (3 anos de APJCC)
Orson Welles,
Cidadão Kane
Estranha perceber que 100% dos filmes listados sejam americanos. E onde estão os filmes asiáticos - maior núcleo de inovação cinematográfica da contemporaneidade? E o cinema brasileiro, pobrezinho? e o resto do mundo? A lista da APJCC revela duas coisas: 1° que o cinema americano continua sendo o maior de todos.Como a jovem crítica francesa do pós-guerra, não estamos interessados nos limites sócio-políticos mas na mise-en-scène, não defendemos o produto local mas a arte universal e é disso que estes filmes falam. 2° que para quem foi cinéfilo no Pará nos últimos 10 anos só chegou o cinema americano mesmo. Fora alguns refugos de cinema brasileiro e europeu, o circuito alternativo paraense foi bem ingrato com quem estava ansioso por CINEMA de verdade. Sobrou o comercial mesmo. Os cineclubes só voltaram muito recentemente e a onda downloader mais recentemente ainda. Obviamente essa justificativa não é uma desculpa: os filmes desta lista são realmente os melhores da década em nossa opinião. Se o olhar é tendencioso, paciência. Só sabemos amar desse jeito e só exibimos o que amamos, com nossas limitações e nossa liberdade.
O cavaleiro das trevas Clint Eastwood sabe que a escuridão é terrível, mas que se torna ainda mais insuportável quando vislumbramos um pouco de luz. Maggie (a aprendiz de lutadora) é uma luz, uma possibilidade e a caminhada cênica/dramática de ambos os personagens das profundezas da escuridão em direção à claridade é direção de gênio.
No início do filme vemos uma luta de boxe. O lutador de Frankie leva um soco na cara e a câmera se aproxima o máximo possível daquele machucado: é que o filme é uma ferida aberta, que nunca vai se fechar. Maggie, de certa forma, é o que abre ainda mais a ferida de Frankie e o que mostra sua primeira possibilidade de escapar de tanta solidão. Eastwood não precisa de muito para, com as imagens e a música, nos localizar dentro daquilo que é essencial: são suas cenas dentro de casa, sempre no escuro, acedendo uma única luz (a luz da memória), do armário onde guarda as cartas que escreve para a filha e que sempre recebe de volta; é a concepção delicada e exata de cada cena em que Maggie e Frankie dividem o mesmo quadro e que nos mostra que quando se trata de "lar" não existem lugares, mas sim pessoas; é o timing perfeito de saber segurar o significado do nome irlandês de Maggie até o momento em que haverá o campo/contracampo perfeito para que ele seja revelado.
Clint Eastwood disse que queria passar a impressão, para o público, de que aquela era uma história que acontecia em outra época - e ele não se referia a um tempo histórico, mas a um tempo emocional. Um dos homens mais sensíveis do mundo consegue nos levar para esse tempo, para esse lugar, "no meio do nada entre cedros e carvalhos", onde pouco mais lhe resta do que a lembrança daquela luz breve que tornou as trevas ao seu redor intransponíveis.
É a solidão de um verdadeiro pai.
Felipe Cruz (APJCC - 2010)
15/12 (quarta) "Os Excêntricos Tenembaum" de Wes Anderson
"Os Excêntricos Tenembaus", um filme de 2001 dirigido pelo incrível Wes Anderson. Filme principal da obra desse diretor texano que é no minino estiloso.
Para os insensíveis e desavisados é apenas uma obra sobre a família, e a questão existencial que essa discussão traz a tona, mas, estão enganados mocinhos! Anderson nos mostra tipos humanos, completamente reais, facilmente de serem encontrados, porém, envolve tudo isso em uma grande fabula. A fotografia trazendo um requinte estranho, combinando tudo com o figurino, tentando nos enganar a qualquer custo de que é apenas ficcional, quando é além, é poesia.
O começo de uma estética infalível que utiliza planos rigorosamente perfeitos e inaugura sua poesia com a câmera, "Os Excêntricos Tenembauns" é o marco inicial para a sua capacidade plástica, seu plano frontal atrelado ao enredo narrativo aparecem pela primeira vez, de fato, e mostra o rigor cinematográfico e o respeito que esse mestre, sim depois de alguns anos e de filmes como: "Viagem a Darjeeling", "O Fantástico Sr. Raposo" podemos e devemos o chamar de um dos grandes mestres do cinema contemporâneo.
Luah Sampaio (APJCC - 2010)
16/12 (quinta) "Corpo Fechado" de M. Night Shyamalan
M. Night Shyamalan registra o cinema contemporâneo com obras que primordialmente derrubam 'roteirices'. Caiu no gosto do público com a trama de um garotinho que fazia pipi porque via pessoas mortas. Em"O Sexto Sentido", já era notável sua habilidade para criar imagens consistentes. O roteiro na sétima-arte destaca o ponto de partida. O cineasta deve em sua operação esfregar na tela e no rosto do público que as imagens por si só falam, gritam. Shyamalan é um modulador de formas, assim como era Alfred Hitchcock. E cinema é forma desbotando o conteúdo. "Corpo Fechado" é a confirmação de um cinema corajoso, busca na mitologia dos quadrinhos sua vibração poética. Shyamalan filma sua obra-prima, que assusta pela grandeza de percepção cinematográfica. Existe uma trama, um desastre de trem, todos os passageiros morrem, com exceção de David Dunne, querendo explicações ele encontra Price, que o leva a uma resposta estranha para o acontecido. Mas é apenas um dispositivo que faz do filme ser uma das obras mais interessantes dos últimos tempos; a condução imagética de quem o fez.
Aerton Martins (APJCC - 2010)
17/12 (sexta) "Embriagado de Amor" de Paul Thomas Anderson
Paul Thomas Anderson já tinha mostrado seu talento nos grandes "Boogie Nights' e "Magnólia" quando resolveu cortar seu cordão umbilical com a Nova Hollywood e filmar "Embriagado de Amor". Aqui não encontramos rastro de Scorsese ou Altman, apenas PTA e sua sensibilidade estranha para a luz, música e o bom e velho 'beijo no final". "Embriagado..." é mais que uma comédia romântica, é um hino às possibilidades de transformação de gêneros desgastados em autênticas peças de arte. O tratamento audiovisual dos dramas de Barry Egan são puro cinema. Tudo o que poderia soar prosaico e vulgar na mão de realizadores menores é poesia com Anderson: o desajeito dos protagonistas, as gags de humor negro, o amor. Sim o tão amarrotado "amor de cinema" ganha frescor e criatividade no filme. Este filme na verdade é sobre a rara história do amor incondicional, idiota, violento e engraçado do realizador pelas imagens que cria. O grande roteiro de todos os grandes filmes.
Miguel Haoni (APJCC - 2010)
18/12 (sábado) "Bastardos Inglórios" de Quentin Tarantino
Desde sua origem, o cinema romantizou e mentiu 24 vezes por segundo. Até que ponto a tentativa de transpor a 'realidade' ou fidelidade de uma peça histórica pode interferir em uma manifestação artística? Em Bastardos Inglórios, o cineasta Quentin Tarantino usa em seu cristalino trajeto a segunda guerra mundial. E sua verdade explode em cada fotograma do filme. A obra concentra suas forças em diversas frentes, uma delas é Aldo Rayne, que comanda um grupo de soldados americanos cuja missão é exterminar oficiais nazistas. Tarantino é um cineasta que valoriza o plano, o ritmo, e no filme também vemos uma operação funcional ; seus atores no enquadramento atuando como se o filme fosse o último de suas vidas. Bastardos Inglórios se posiciona como uma borboleta intransponível. Possui uma leveza e acuidade plástica que nem os mais fortes gigantes poderiam destruir. Um grito de amor a sétima-arte, dado por um homem que despejou vitalidade e beleza no cenário cultural deste século.
Aerton Martins (APJCC - 2010)
19/12 (domingo) "Kill Bill Volume Único" de Quentin Tarantino
Quentin Tarantino foi o homem que devolveu o termo "cinefilia" ao cenário nocivo e estéril que acometia a sétima-arte no começo dos anos 90. Se o grande diretor David Wark Griffith forjou os diversos gêneros em sua pedra fundamental, O Nascimento de uma Nação, de 1915, Tarantino jogou semente para a molecada dos anos 90 e 00 com sua vitrine febril e latente. Em Cães de Aluguel o faroeste urbano era o pano de fundo para a gênese de sua verborragia, em Pulp Fiction a fragmentação da narrativa assustava muita criança de fralda que estreava nas telas em 1994. Kill Bill foi pensado à época das filmagens de Pulp Fiction. Tarantino e Uma Thurman esboçaram o roteiro. Conversas. Uma mulher com sede de vingança. Um caldeirão sublime de poesia cinematográfica que só um cineasta de talento e ousadia poderia parir. Quentin Tarantino deixa em Kill Bill a força de uma arte que foi abandonada pelos seus "criadores". Irmãos Lumière, não se preocupem, Kill Bill nasceu.
Aerton Martins (APJCC - 2010)
Serviço:
de terça a domingo
(14 a 19 de dezembro)
às 15h00
no Cine Líbero Luxardo
Av. Gentil Bittencourt, 650, Térreo (esquina com Rui Barbosa)
ENTRADA FRANCA
Realiazação: APJCC e Cine Líbero Luxardo
Apoio: Cineclube Amazonas Douro e Sol Informática
Informações: 8813-1891
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário. Capriche nas suas idéias. Respeite opiniões contrárias a sua.